segunda-feira, 22 de novembro de 2010

ESGOTO



E
m março deste ano, o presidente Lula assinou decreto que regulamentou o Proinfa (Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica). O programa vai contar com cerca de R$ 5,5 bilhões de investimentos do BNDES e representa um passo importante para diversificar a matriz energética brasileira.
Essa medida carrega também uma importância ambiental. Existe hoje um esforço mundial na tentativa de reduzir a emissão de poluentes. O Brasil, nesse sentido, já é um exemplo a ser seguido. Atualmente, 90% da eletricidade gerada no País provém da energia hidráulica, uma fonte renovável e limpa. Nada mais justo para um país banhado por tantos rios de planalto, ideais para a construção de usinas hidrelétricas. Entretanto, também é necessário diversificar essa matriz energética e aproveitar o potencial brasileiro presente em sua riqueza natural, no imenso território e na incidência de radiação do Sol que a localização tropical proporciona.

Sistema de aquecimento em Uberlândia
Algumas iniciativas nesse sentido já estão sendo tomadas muito antes dos temas ambientais fazerem parte da agenda dos nossos governantes. É o caso do engenheiro Augustin Woelz, que em 1985 desligou-se
da empresa onde trabalhava em São José dos Campos para investir na área ambiental. Foram anos de estudo para desenvolver tecnologia para fabricar aquecedores solares a preços acessíveis sem chegar a grandes resultados. A história mudou em98, quando sua empresa foi convidada a participar do Cietec (Centro Incubador de Empresas Tecnológicas), na USP. "Com a convivência acadêmica e a troca de informações com outros projetos, nós conseguimos desenvolver o aquecedor solar de baixo custo, um projeto idealizado em 92 e que se materializou apenas no final de 2001", comemora.

 
Creche em Goiânia  
Nesse ano eles fundaram a Sociedade do Sol, uma ONG (Organização Não-Governamental) que visa a difundir a tecnologia do ASBC (Aquecedor Solar de Baixo Custo) na comunidade. O foco do projeto são as comunidades mais pobres, já que o custo total do ASBC fica em cerca de R$ 250, para produzir água quente para o banho de uma família de 4 a 6 pessoas. Um investimento que, segundo o idealizador, retorna ao usuário em menos de dez meses. "O foco do projeto é a população de baixa renda, e a gente tem recebido muitos retornos dessas pessoas", afirma. Para incentivar a disseminação do projeto, Woelz não quer patenteá-lo.
De fato, a caixa de e-mails da ONG está cheia de contatos de pessoas que usam o ASBC, muitas delas com enorme sucesso. É o caso do engenheiro Mauro Rocha, de Goiânia, que há mais de três anos utiliza o ASBC e não tem do que reclamar. Ele e a irmã criaram uma empresa que usa o projeto para desenvolver a tecnologia e adequá-la comercialmente, fato que só pôde acontecer devido à decisão de Woelz de não patentear o projeto.
Em Goiânia os frutos já estão sendo colhidos. O barateamento da tecnologia do ASBC permitiu que a Secretaria de Educação investisse sua instalação em 53 creches na cidade. "Quando estiverem instalados os 53 módulos, a economia de energia elétrica anual será da ordem de R$ 240 mil, dinheiro suficiente para a construção de uma creche completa", comemora Rocha.
Outra alternativa de fonte de energia é a biomassa. "Biomassa é qualquer substância, de origem vegetal ou animal, que pode ser usada como fonte de energia elétrica ou térmica", explica Orlando Cristiano da Silva, membro da equipe executiva do Cenbio (Centro Nacional de Referência em Biomassa), localizado na USP. Além da vantagem ambiental (ela polui menos que outros combustíveis fósseis como o petróleo), existe a importância socioeconômica. "A produção de biomassa envolve mão-de-obra local, agregando trabalhadores e atenuando problemas de êxodo rural", explica.
O próprio Cenbio, em parceria com a Sabesp, desenvolve um projeto na Estação de Tratamento de Esgoto de Barueri, a maior da América Latina. Lá, foi instalada uma microturbina importada dos Estados Unidos que transforma o biogás eliminado pelo esgoto em energia elétrica. Apesar de ainda ser um projeto piloto, o engenheiro responsável, David Freire da Costa, acredita que é uma iniciativa válida, pois evita que o metano, um gás extremamente tóxico presente no biogás, seja jogado na atmosfera. "Transformar o biogás em energia elétrica é dar um fim mais nobre a um resíduo que poderia ser eliminado no ar", afirma.

 
Sistema completo ASBC  
A Prefeitura de São Paulo também caminha em direção ao uso de outras fontes renováveis de energia. No início do ano, como parte da comemoração dos 450 anos da cidade, a prefeita Marta Suplicy inaugurou a Central Termelétrica Biogás do Aterro Sanitário Municipal Bandeirantes, no bairro de Perus. Utilizado desde 1979, o local recebe sete toneladas de lixo por dia - metade da produção da cidade de São Paulo - e é um dos maiores aterros do mundo. Estima-se que em 2006 ele atinja o seu limite de 30 milhões de toneladas de lixo, quando será desativado.

Para criar a maior central de geração de eletricidade movida a gás de aterros sanitários do mundo, foi necessário um investimento total que superou a marca dos R$ 60 milhões, permitindo a redução de até 8 milhões de toneladas de carbono na atmosfera, contribuindo para a redução do efeito estufa e para a economia de energia. A produção de energia vai suprir a demanda energética das agências do Unibanco, um dos financiadores do projeto, em todo o Brasil.

 
Produção de energia eólica  
Enquanto isso, longe dos lixões de São Paulo, o Nordeste destaca-se por ser uma área privilegiada em uma determinada fonte de energia ainda pouco conhecida, a eólica. Nela, torres de mais de 20 metros de altura com gigantescas hélices no topo transformam, através de sua rotação, o vento que incide sobre o Nordeste o ano inteiro em energia elétrica. São Paulo, por outro lado, está em desvantagem no que diz respeito à energia eólica, pois sua área é uma das que menos recebem incidência de ventos no Brasil. Quando se fala em malefícios dessa fonte energética, dois pontos costumam ser levantados: a poluição sonora que a sua estrutura produz e a poluição visual. Para se ter uma produção elétrica significativa, é necessário uma grande área de terra com diversas torres e hélices, alterando a paisagem natural do ambiente.

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